Por algumas ruas mal iluminadas, Alice e Eduardo vinham da festa. Ambos estavam alterados, mas Alice não estava como na noite em que Eduardo lembrava bem. A noite em que ela deixou sua casa sem explicações, mas também a noite em que ele a viu dormir pela primeira vez.
Alice já não parecia tão alegre e agitada, agora demonstrava em seu rosto um grande cansaço.
A casa estava silenciosa e escura, e essa era a única semelhança com o outro dia que estiveram ali juntos. Os dois entraram, Alice jogou sua bolsa em cima da mesa, a bolsa estava aberta e ela não percebeu quando ela caiu de lado e alguns de seus pertences saíram da bolsa.
Eduardo já não estava tão bêbado quanto antes, e quando foi deixar sobre a mesa sua chave, ele percebeu a bolsa aberta e o que caíra dela, uma pequena caixa havia aberto e dela alguns comprimidos se espalharam pela mesa. Alice estava mexendo na câmera de Eduardo, que estava guardada num armário que estava ali. Ela via as fotos tiradas, de modo aleatório e sem compromisso.
Eduardo pegou os comprimidos e sabia o que era logo quando os viu em sua mão, eram comprimidos de êxtase, e ele ainda percebeu alguns poucos anti depressivos no meio, lembrava da aparência dos anti depressivos pois sua mãe os tomou durante um tempo.
Alice foi ao seu encontro para saber o que se passava, e ele olhou para ela de forma triste, estendo as mãos e mostrando a ela o que acabara de descobrir, e Alice parecia perdida e desnorteada com aquilo. Ela andava de um lado para o outro.
"Alice! Eu sei o que são esses comprimidos, o que está acontecendo com você ? Ontem você parecia tão bem..."
"E eu estava, Eduardo, mas infelizmente minha noite não acabou naquele momento, eu queria muito poder deitar tranquila, mas existem outras complicações."
"Mas então, desde o começo da festa eu percebi que você estava diferente, e mesmo rindo e toda agitada você não parecia bem! Não parece a Alice de verdade!"
"Alice de verdade? Você não me conhece tão bem assim pra dizer isso. Eu tive uma briga com meu pai, um amigo meu tinha pedido pra eu guardar isso, e eu usei."
"Mas não é assim que se resolve, eu poderia ajudar você...Podia me ligar..."
"Eduardo, você me ajuda! Você é até mais que uma ajuda, mas simplesmente não é tão simples assim!"
Alice juntou algumas coisas em sua bolsa e um comprimido que ainda estava na mesa, e partiu para a porta, enquanto Eduardo tentou impedi-la. Mas ele sabia que nada iria adiantar naquele momento, ele não poderia simplesmente mantê-la ali. Apenas pediu que ficasse, mas ela olhou para trás com a mão já na porta.
"Eu preciso ir Eduardo, eu preciso ficar um pouco sozinha depois disso."
Enquanto Alice secava suas lágrimas abriu a porta e saiu.
O sol já tinha nascido entre as nuvens quando Alice foi para sua casa no bairro K11, e Eduardo ficou ali parado sem saber o que fazer, mas sentindo-se mais uma vez no vazio que conhecia bem.
Mais uma vez Alice partira, mas agora era uma situação diferente, ela estava triste e consequentemente ele também estava. Ele sabia que devia deixá-la sozinha, seria melhor para ela, mas foi difícil ficar em casa.
O dia amanhecia nublado, e combinava com a sensação de tristeza a sua volta.
Mais um dia surgia para os dois, mas a sensação era de estar anoitecendo, na escuridão.
Eduardo deitou no sofá, e apenas fechou os olhos pensando em Alice, e em como ela estava.
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