sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Apenas mais um dia



Eduardo abriu os olhos, mas pensou em faltar ao trabalho. Estava tão cansado, bem podia continuar dormindo no ônibus, após o trem. Depois da faculdade, no caminho para o trabalho, poderia descansar e pensar nas coisas de sua vida: a fotografia que tanto ama, a mãe que precisava dele, e a faculdade como uma perspectiva de futuro. Pelo menos, aquele dia não seria totalmente perdido: havia o sms de Caio, seu amigo barman, recebido por volta das 9h, falando sobre o trabalho no show de uma banda independente. Bom, pelo menos era um trabalho de fotografia. E o pessoal se encontraria lá, sempre sobrava um tempinho para curtir o lugar e era bom saber que seus amigos estariam por perto. Agora, era a sua estação: Nova Iguaçu. Hora de saltar do trem do devaneio e entrar na realidade.

Até que o trânsito colaborou com Alice, moradora do bairro K11, em Nova Iguaçu. Ela era vocalista de uma banda de rock alternativo, dona de um estilo próprio, com um conceito pra quase tudo no mundo, era leve e doce de se ver, tinha algo no olhar dela, algo profundo demais, que ela muita vezes tampava com sua franja. Chegou bem rápido à reunião com o pessoal. Mas, a baterista parece não ter a mesma sorte, demora uma eternidade para chegar. Enquanto ela não chega, Alice faz o seu cover e todos adoram. Enfim, quando a atrasada chega, decidem fazer o cover no show da noite.
Havia chegado a hora de irem, tinham que passar o som antes de subirem ao palco, pegaram a Kombi velha e foram. Ou tentaram: “Droga, quebrou de novo! Vamos ter que empurrar! Porcaria!” E lá foram eles..
Ao chegar lá no trabalho extra, Eduardo falou com o seu amigo barman, olhou o lugar e achou os melhores ângulos. De repente, uma voz doce e forte o tira do foco.
Ao subir no palco, Alice se tornava outra pessoa, mas ainda era ela. Ela a Alice livre, solta, sem correntes, sem problemas. Era feliz. Parecia iluminada, estava luminosa.
E foi essa Alice que enfeitiçou nosso amigo fotógrafo. Ela percorreu seus olhos pela multidão, sempre fazia isso, para saber como estavam recebendo a sua música. Eduardo a viu, se encantou e não conseguiu mais deixar de olhá-la. Alice reparou naqueles olhos castanhos que a seguiam.

Seus olhos se encontraram. O mundo parou. Esqueceram de tudo. E, sem saber como, perceberam que, definitivamente, aquele dia não era apenas mais um dia.



Um comentário: